quarta-feira, 10 de agosto de 2011

sábado, 6 de agosto de 2011

Carta aberta ao Sr. ou Sra., não sei, Pedro Cruz

Ontem à tarde recebi o seguinte e-mail do jornalista e editor executivo da SIC Porto, Pedro Cruz:

“Que coragem!
Ter um blogue para insultar pessoas é mesmo divertido.
Eu e os meus amigos divertimo-nos a arrasar pessoas que não conhecemos e a opinar sobre tudo.
Gostava de o ver a fazer um directo naquelas circunstâncias.
O Sr. ou Sra., não sei – e os seus amigos corajosos com pseudónimos e nick names.
Que corajosos.

Os melhores cumprimentos do

Pedro Cruz
SIC”


Eu não costumo ligar a este tipo de coisas, até porque nestes seis anos que já levo a trabalhar na área da comédia, como podem imaginar, já recebi a minha quota de e-mails deste género. Mas este em particular, sensibilizou-me, e decidi responder. Em carta aberta. Porque acho que seria de todo injusto para os meus amigos corajosos com pseudónimos e “nick names”, não poderem partilhar comigo este momento. Ora então, com licença:

“Em primeiro lugar, gostaria de lhe agradecer o facto de se ter dado ao trabalho de me enviar este e-mail após ter visitado o meu humilde blogue. Depreendo que não deve ter muito tempo disponível entre pesquisas do seu próprio nome no Google, e consequente envio de e-mails a quem fala sobre a sua pessoa, e por isso, mais uma vez, agradeço a sua disponibilidade.
Confesso que quando comecei a ler a sua missiva, não fazia a mínima ideia a que é que se referia quando dizia, “Gostava de o ver a fazer um directo naquelas circunstâncias”, e como tal, decidi seguir o seu exemplo, e pesquisei o seu nome no Google. Para grande espanto, descobri uma ligação ao meu blogue, datada de 7 de Janeiro de 2008. Ligação essa que reproduzo de seguida na íntegra para poder contextualizar toda a situação:

“Hoje gostaria de partilhar convosco, a estupefacção com que fiquei, ao assistir em directo no Jornal da Tarde da SIC, a uma entrevista aos pescadores de Caxinas, acerca do naufrágio de um arrastão com portugueses e franceses junto à costa de Finisterra. A única coisa que o repórter Pedro Cruz tinha que fazer, era entrevistar um pescador amigo dos desaparecidos, e um familiar. O que ele fez, foi chamar David ao pescador que se chama Vítor, chamar Sérgio Ramos, ao sobrinho do pescador desaparecido que se chama Sérgio Nunes, e...bom, vejam o resto...


Eu gostaria de destacar as seguintes frases:
- "Apesar de tudo há uma boa notícia! Há um dos seus camaradas de profissão que se salvou, o outro está desaparecido...e nós sabemos o que quer dizer desaparecido nestas circunstâncias..."
- "Nós todos sabemos o que quer dizer desaparecido...como é que a família está a lidar com esta situação?"
- "Lá em casa o ambiente não deve estar muito bom..."

E a minha favorita:
- Agradeço-lhe a sua diponibilidade, e os meus sentimentos!"

Portanto...recapitulando...os pescadores estão desaparecidos apenas a algumas horas...o repórter está a entrevistar o sobrinho de um dos desaparecidos que está visivelmente a passar por um mau bocado...e acaba a sua intervenção dizendo, "OS MEUS SENTIMENTOS" ?!
Excelentíssimo Pedro Cruz, os meus sentimentos para o seu futuro no jornalismo em Portugal.
Abraços."

E é precisamente aqui que eu tenho que lhe endereçar o meu primeiro pedido de desculpas. Eu profetizei um futuro negro para a sua carreira jornalística em Portugal, e passados 3 anos, o senhor não só continua a trabalhar como jornalista, como é inclusivamente editor executivo da SIC Porto. Tudo isto vem provar mais uma vez que o mau jornalismo tem futuro em Portugal. Se continuar no caminho que trilhou até agora, tenho a certeza que a TVI ou até mesmo o grande Correio da Manhã, vão acabar por apostar em si. Não desista!
Na sua missiva, diz-me também que “ter um blogue para insultar pessoas é mesmo divertido”, e que “Eu e os meus amigos divertimo-nos a arrasar pessoas que não conhecemos e a opinar sobre tudo.”
Ora, é curioso que diga isso, porque na tal pesquisa que fiz no Google, descobri que o senhor também gosta de opinar sobre pessoas que não conhece…


Segundo pedido de desculpas. Se for no blogue de um canal de televisão não conta não é? Esqueci-me desse pormenor. Peço desculpa.
Voltando ao início, confesso que a frase, “gostava de o ver a fazer um directo naquelas circunstâncias”, me deixou um tanto ou quanto intrigado, isto porque para mim, é quase a mesma coisa que dizer a um médico, “Gostava de o ver a fazer uma operação num hospital público”, ou dizer a um polícia, “Gostava de o ver a fazer uma rusga no Bairro da Bela Vista”. Esse é o seu trabalho! Estudou anos e anos para o saber fazer! Estão milhares de pessoas licenciadas em jornalismo no desemprego. Porque é que não faz essa pergunta a essas pessoas?
A seguir, diz “O Sr. ou Sra., não sei – e os seus amigos corajosos com pseudónimos e nick names.”
Ora, eu sei que assinar todos os meus textos com “Paulo Almeida”, ter uma secção no blogue chamada “Quem é este palhaço? – Paulo Almeida”, e ter vídeos onde apareço, pode levar um individuo a questionar se eu serei um Sr. ou uma Sra., até porque o meu aspecto, convenhamos, não é o mais masculino do mundo, mas penso que com alguma perspicácia, e quiçá, algum trabalho de investigação jornalística, conseguimos lá chegar.
Se eu usasse um pseudónimo, teria o bom senso de não usar algo que rimasse com levar na peida. Já basta o que sofri na minha adolescência. O gozarem com o meu nome, não o acto em si. Nada contra. Cada jornalista é livre de fazer o que bem entender.
Para terminar, gostava de dizer que não uso o meu blogue, ou qualquer outro espaço em que participe, para insultar pessoas “porque é muito divertido”. O que eu tento fazer, umas vezes melhores do que outras, é mostrar o ridículo que por vezes existe na sociedade, onde, por exemplo, durante um directo para um telejornal, um jornalista está a entrevistar os familiares de pescadores desaparecidos há poucas horas, e decide, de forma objectiva, cortar-lhes todas as esperanças de os encontrar com vida, dizendo,“nós todos sabemos o que quer dizer desaparecido… agradeço-lhe a sua disponibilidade, e os meus sentimentos…"

Mais uma vez, quero agradecer-lhe o facto de me ter enviado este e-mail a expor a sua revolta, e sobretudo por o ter feito através do endereço de correio electrónico da sua entidade patronal, porque, como todos nós sabemos, o uso da internet para outros fins que não o trabalho em si nos locais de trabalho, está cada vez mais a aumentar em Portugal, e o seu exemplo de profissionalismo pode ajudar a acabar com esta ideia.

Despeço-me com os melhores cumprimentos,

Paulo Almeida
Gerente da boîte “Rosa Mística”

Abraços.