terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Entrevista a uma trabalhadora do amor pago

A crise chegou ao negócio do sexo. O Correio da Manhã de ontem, noticiou que no Alentejo, as prostitutas estão a vender os “programas de prazer” a preço de saldo para sobreviver à forte concorrência das casas e bares de alterne situadas na raia espanhola. Sem clientes e rendimentos para sobreviver, muitas mulheres começam agora à procura de um novo trabalho, sobretudo no mercado do atum enlatado e no fabrico de acessórios para aspiradores Hoover. Numa tentativa de ficar a conhecer um pouco mais da realidade das trabalhadoras do amor pago sedeadas no Alentejo, entrevistei uma dessas mulheres, de seu nome Marlene (nome fictício), que me relatou o drama que vive actualmente.

- “Marlene”, em primeiro lugar queria-lhe agradecer o óptimo felácio que executou na minha pessoa. Os preços baixaram mas a qualidade mantém-se. Parabéns.

- Ora essa.

- “Marlene”, conte-nos lá então, qual é o ponto da situação do mercado de trabalho das trabalhadoras do amor pago, no Alentejo?

- Oi? Trabalhadoras do amor pago? Essa gente eu não conheço não. Aquilo que eu sei, é que para as prostitutas, isto está mau prá xuxu. Há muita concorrência neste ramo e temos de enfrentar as casas espanholas que praticam preços um pouco mais elevados mas com outro tipo de condições, e também a Elsa Raposo que por aparecer nas revistas, consegue muito mais clientes que nós.

- Isso de facto é injusto. Mas diga-me, em termos comparativos, como é que está o negócio?

- Há dois anos atendia cinco ou seis clientes e agora apenas um ou dois. Muitos dias nem faço programas. Assim não dá para sobreviver.

- Claro. Assim não consegue juntar dinheiro suficiente para comer e para enviar para a sua terra Natal.

- Oi? Não cara. Assim não dá prá sobreviver porque como não há clientes, da parte da manhã tenho que ficar em casa a ver o programa do Manuel Luís Goucha, e à noite tenho de ver a Floribella. Isso arrasa qualquer um.

- E já pensou em mudar de profissão, fazer outra coisa da sua vida?

- Eu nem sempre trabalhei na prostituição. Houve uma altura da minha vida, em que trabalhei como apresentadora de TV, no programa “Portugal no Coração”. Cheguei mesmo a namorar com um jogador de futebol. Mas depois tudo acabou, e tive que voltar prá esta vida. Nessa altura tinha um nome diferente, meio espanholado, e o meu sotaque brasileiro não se notava muito.

- Diga-me uma coisa, qual é o perfil do cliente que procura os seus serviços
?

- Há um pouquinho de tudo e por isso eu decidi colocar uns apelidos, é assim que se diz aqui não é, neles. Há os homens gordos e sem qualquer higiene pessoal e que não conseguem dizer uma piada que seja com graça. Esses eu chamo de “Malatos”. Depois há os anões irritantes que têm o sonho de ser o Bryan Adams. Esses eu chamo de “João Pedro Pais”. Tenho também aqueles homens mais velhos, que são casados mas têm uma mulher que é mais homem do que eles. Esses eu chamo de “Jorge Sampaios”.

- E são só homens que a procuram, ou também tem mulheres como clientes?

- Lógico que sim. A maior parte das mulheres que me procuram, estão frustradas com a vida, e apenas conseguem ter prazer dizendo mal de todas as outras pessoas. Essas mulheres eu chamo de “Cláudio Ramos”, ou “Daniel Nascimento”, caso sejam africanas.

- E quais são os preços do “programinha”?

- Há preços muito variados. Depende daquilo que o cliente quer. Mas posso dizer que vai desde os 10 euros por um “beijinho” e os 40 euros por relação sexual, até aos 250 euros por um jogo de Bisca dos Nove.

- Muito obrigado por esta entrevista “Marlene”. Agora se não se importa, eu dava-lhe 100 euros, você punha um saco de plástico a tapar a cara e depois virava-se de costas para mim. Pode ser?

Abraços.

2 comentários:

Lisa disse...

Bem, houve a ambivalência dentro de mim. Acho que este é um dos teus melhores textos dos últimos tempos; contudo, não sei se me agrada muito ouvir-te falar de felácios, saco de plástico na cabeça, pagamento da portagem do túnel do amor e assim. Continua, mas com cuidadinho...

Anónimo disse...

Gostei do texto:)