sexta-feira, 28 de outubro de 2005

Capuchinho Encarnado

Era uma vez uma jovem mulher de 14 anos que recebeu como prenda de Natal da sua avó, um capuz encarnado e um par de meias brancas com umas raquetes a dizer “sport”. Numa bela tarde de Domingo, a mãe dessa jovem, divorciada, 38 anos alcoólica em tratamento, recebeu uma chamada da sua mãe, dizendo que os cigarros e o vinho tinto se tinham acabado, e que não lhe apetecia nada sair de casa para os ir comprar porque estava meio engripada e havia uma aragem fria na rua. Como tal, a mãe da jovem mulher de 14 anos, mandou a sua filha, entregar a encomenda à avó, e como tinha ouvido na televisão que existia a probabilidade da ocorrência de aguaceiros em todo o território continental, mandou a filha levar o capuz encarnado vestido para não se constipar. A filha não era grande fã daquele capuz, o que ficou comprovado quando ela disse, “Não vou levar aquele pedaço de merda encarnada vestida...não vou já disse...se alguém lá da escola me vê com aquilo vestido sou gozada e se calhar ainda levo na tromba...”. A mãe, que não gostava nada daquele tipo de linguagem, repreendeu-a logo de imediato dizendo, “Mas que merda de linguagem vem a ser esta, hã?! Vais levar isto vestido com um sorriso nos lábios, depois vais pedir dinheiro à tua avó e quando voltares ainda vais passar pelo Intermarché e vais-me trazer uma litrosa, estamos entendidas?! Dasssse...a Joana bem me disse que não te devia ter tido...filhos só trazem despesas e problemas...Ah, e já agora, põe-te a falar com estranhos, põe...eu sei bem a galdéria que tu és...Vá, põe-te a caminho. Adoro-te filhota linda”.
Por não querer revelar a sua verdadeira identidade, vou apelidar a jovem mulher de 14 anos de “Capuchinho Encarnado”. Bom, depois daquela azeda troca de palavras com a sua mãe, o Capuchinho Encarnado pôs-se a caminho da casa da avó com a encomenda que tinha para ela. Cansada de tanto andar, isto porque a sua mãe tinha gasto o dinheiro para o passe do autocarro em álcool, decidiu fazer um desvio pela floresta para poupar tempo e também para fumar um charro. Enquanto estava recostada a uma árvore a apreciar o seu charro, um lobo aproximou-se sorrateiramente dela, mas esta, pensando ser um efeito do que estava a fumar, não ligou. O lobo, ao chegar perto da jovem disse, “Ouvi dizer que já tens pelinhos e que está mais do que na hora de lhe começar a dar banana...”. O Capuchinho Encarnado não gostou muito daquele comentário sexista e retorquiu, “És um lobo muito ordinário não és? Deves mesmo pensar que consegues pôr as tuas garras neste corpinho...vai sonhando”. “Por acaso pensei”, disse o lobo. “Ar de puta é o que não te falta...Olha lá sua rameirinha, o que é que levas dentro dessa cesta?”. “Deves ter muito a ver com isso”, respondeu o Capuchinho, mas o lobo insistiu, “Vá lá...não sejas coninhas, diz lá o que levas aí dentro...”. “És chato como a merda sabias? São só umas coisas que a minha mãe pediu para levar à estúpida da minha avó que mora sozinha numa casa minúscula no meio do nada, onde qualquer pessoa ou animal que lhe queira fazer mal pode ir porque não existe ninguém num raio de 50 kms para a ouvir gritar”, respondeu relutantemente a pequena Capuchinho. O lobo, vendo ali uma óptima oportunidade para realizar o sonho de todos os animais, comer duas mulheres ao mesmo tempo, despediu-se à pressa da jovem que tinha acabado de encontrar dizendo que o Benfica ia dar na televisão, e pôs-se rapidamente a caminho da casa da avózinha de modo a conseguir chegar lá antes da neta. A Capuchinho por seu lado, apanhou uns cogumelos na floresta e deixou-se ficar a tripar mais um bocadinho.
(Fim da Primeira Parte)
Abraços.

1 comentário:

Anónimo disse...

O que vale é que a inspiração vem quase todos os dias. Este é um dos teus melhores textos. Beijinhos grandes de um local minúsculo no meio do nada...