domingo, 18 de março de 2007

"O teu pai deve ser aviador não?!"

Não sei se alguém lembra de uma pequena frase que era repetida vezes sem conta quando éramos petizes e andávamos na escola, uma frase que era dita sempre que estávamos sentados ao lado de alguém no refeitório ou na mesa da sala de aula e tocávamos sem querer na outra pessoa com o cotovelo. A frase era, “O teu pai deve ser aviador não?!” Bom, eu tive que ouvir essa frase muitas vezes, e como é óbvio, ao fim da 876554ª vez que a ouvi, decidi que tinha que arranjar uma maneira para nunca mais ouvir aquela frase terrível. Eis o que eu fiz: numa bela tarde de Abril, à hora de almoço, sentaram-se ao meu lado no refeitório, e passados 30 segundos, toquei sem querer nessa pessoa com o meu cotovelo quando estava a tirar os talheres do invólucro branco onde habitualmente vinham. Como seria de esperar, 2 segundos depois, “o teu pai deve ser aviador não?!” foi proferido. Sem hesitar respondi, “por acaso até foi, mas morreu quando eu tinha 3 anos de idade num acidente de aviação onde morreram mais 257 pessoas, 34 das quais eram crianças no seu baptismo de voo. Com o choque da notícia, a minha avó, mãe do meu pai, teve um ataque cardíaco e morreu. O meu avô, ex-alcoólico em recuperação, quando soube que a minha avó tinha falecido, voltou a meter-se nos copos e morreu de cirrose uns meses depois. Quando o meu pai morreu, a minha mãe estava desempregada e como tinha acabado de dar à luz a minha irmã mais nova, entrou em pânico e meteu-se na prostituição para garantir a subsistência da nossa, agora, reduzida família. Um ano depois morreu de overdose porque o chulo a obrigava a drogar-se. Eu e a minha irmã fomos colocados numa instituição de acolhimento chamada “Casa Pia”, não sei se já ouviste falar, onde já fui abusado 7 vezes por um senhor que apresenta um concurso na televisão. A minha irmã já se tentou suicidar 4 vezes e tem como banda favorita os Pólo Norte, por isso, resumindo, sim, pode-se dizer que o meu pai é aviador”.
Nunca mais ouvi aquela frase.
Abraços.

1 comentário:

Anónimo disse...

Se calhar em vez do discurso era preferivel nao andar sempre às cotoveladas nas pessoas... tinha o mesmo efeito e ganhavam todos...