segunda-feira, 6 de junho de 2005

Como iniciar uma carreira no crime

Eu era alguém cuja casa estava sempre a ser assaltada, mas um dia fartei-me. Pensei em comprar um alarme ou um cão, mas depois lembrei-me que ia precisar de algo muito original para acabar com esta onda de assaltos. Eis o que eu fiz: comprei umas latas de spray e pintei umas asneiras nas paredes da minha sala, derrubei toda a mobília, revirei as gavetas e fiz um cócó no hall de entrada. Eu pensei, “isto vai mostrar a esses ladrõezecos de meia tigela quem manda...eles vão pensar que alguém chegou primeiro que eles!”. Comecei também a dormir com uma meia a tapar-me a cara e com a aparelhagem agarrada ao peito, assim, se alguém entrasse pela casa adentro a meio da noite, eu podia fazer de conta que estava a assaltar a casa mas que naquele momento tinha parado para descansar um pouco. A minha namorada achou esta ideia totalmente descabida, e por um lado, eu até a compreendo, quer dizer, não deve ser fácil para uma rapariga ter que dormir atada a uma cadeira todas as noites. Mas há duas semanas, esta minha ideia deu resultado. Alguém entrou em minha casa e quando acordei ele já estava no meu quarto. Então, eu saltei da cama e fiz de conta que também era um ladrão e ele ficou super impressionado comigo. Disse-me que eu tinha realmente feito um bom trabalho com a vandalização da casa e deu-me inclusive a morada de uma loja que vendia óptimos sprays a metade do preço. E foi aí que eu comecei realmente a encarnar o papel de ladrão. Agarrei a minha namorada pelos ombros e comecei a gritar, “ONDE É QUE ESCONDESTE O DINHEIRO? ONDE? ONDE?” ao mesmo tempo que lhe dava umas chapaditas de amor na cara. Depois revirei mais alguma mobília e fiz outro cócó, desta vez na cozinha porque tinha comprado recentemente um produto para limpar aquele tipo de chão e ainda não tinha tido a oportunidade de o testar a sério. O ladrão acabou por se revelar um tipo super porreiro, chama-se Juca, e acha que me consegue arranjar uns “trabalhinhos” em alguns bancos num futuro próximo. Ah, e também me vendeu a aparelhagem por um preço super catita. E pronto, pode-se dizer que foi nesse momento que iniciei a minha vida no crime. A partir dali, experimentei alvos mais fáceis, amigos e família. Posso até contar uma história muito engraçada que me aconteceu quando estava a assaltar a minha mãe, ela apanhou-me e como conseguiu ver a minha cara tive que lhe dar uma pequena facada. Depois de conversar com ela, ela disse-me que só tinha entrado no quarto naquela altura para me levar um chá com bolachinhas...mas como diz o provérbio, “mais vale prevenir do que remediar...”
Abraços.

Sem comentários: